Tailândia: Ayutthaya, a antiga sede do Reino do Sião

Uma viagem surpreendente na cidade que viveu o passado de ouro do país


Fontes de estudos históricos afirmam que Ayutthaya chegou a ser a maior cidade do mundo, com cerca de 1 milhão de habitantes, sendo sede do Reino do Sião. A localização da cidade fica entre três rios, formando uma grande ilha, o que a fez crescer como um dos maiores portos comerciais do oriente. O primeiro contato com os europeus aconteceu através de uma missão diplomática enviada pelo rei de Portugal. Acabou sendo abandonada pela população depois de uma invasão da Birmânia (atual Myanmar). A maior parte dos templos e prédios foi queimada e destruída, e as estátuas de budas foram decapitadas pois assim se acreditava matar os espíritos dos deuses locais.


COMO CHEGAR?

A proximidade com Bangkok (cerca de 80 km) faz de Ayutthaya uma opção de "one day tour" oferecido pelas agências de turismo nas proximidades da Khao San Road. Mas como meu planejamento era descer o país desde o norte, segui para a cidade através de um ônibus noturno vindo de Sukhothai. Saí de lá às 21h50, com a previsão de 7 horas de viagem mas a viagem durou apenas 6 horas. Como não tem rodoviária, o ônibus parou num ponto na beira da rodovia, me fazendo ficar esperando o dia clarear sentado em frente um mercadinho Family Mart 24h (no estilo 7 Eleven).

Sentado na calçada tomando o café da manhã que comprei no mercadinho


Meu planejamento era seguir primeiro para a estação de trem (railway station) para deixar a mochila e comprar as passagens para Bangkok, pois eu seguiria no mesmo dia. Para chegar lá de maneira econômica, o jeito é pegar os songthaews (espécie de tuk tuk lotação) que saem do outro lado da rodovia, tendo que cruzar a passarela, bem em frente ao Ayutthaya City Park, na porta da loja Robinson. Por surpesa, os songthaews não queriam me deixar embarcar, provavelmente, porque haviam tuk tuks. Era uma espécie de acordo, tipo a guerra entre taxistas e UBER. Mas um senhor me deu a dica para pegar os carros fora do ponto, alguns metros a frente do shopping. Fiquei esperando e passou uma van que cobrou 10 baht para levar até o centro da "ilha".

A travessia do rio é rápida e barata, cerca de R$ 0,50


De lá, uma estudante/passageira me levou até o porto que sai o barco que cruza o rio até a estação de trem (5 baht). Na estação, deixei a mochila no guarda bagagem (10 baht) e descobri que não precisava comprar a passagem adiantada, bastava comprar na hora que haveria vaga. Ali também é possível conseguir um mapa de Ayutthaya.


WAT MAHA THAT

Cruzei o rio de volta para a "ilha" da antiga Ayutthaya e segui caminhando a pé para a primeira e principal atração da cidade: um grande templo de relíquias localizado no meio da cidade antiga e que possuía centenas de estátuas de budas que os birmaneses decapitaram durante o ataque. A entrada costuma ser de 50 baht, mas estava de graça devido ao luto pela morte do Rei da Tailândia. Caminhar pelas suas ruínas dá a impressão de estar no meio de uma cidade cheias de prédios altos. Funciona de 08h30 às 17h.

Um complexo de templos que seria a Wall Street do passado


Algumas poucas estátuas permanecem intactas


O grande templo de Ayutthaya foi incendiado pelos birmaneses


Esse prang está inclinado como a torre de Pisa


A arquitetura sugere a beleza que tudo aquilo já ostentou


A principal atração deste templo é a cabeça da estátua de Buda que foi envolvida por uma árvore que cresceu no local. É um lugar de milagre para os budistas, por isso, a maneira respeitosa de se aproximar é ficando de joelhos e não apontando os pés para a cabeça de estátua. Seria mesmo um milagre ou alguém colocou aquela cabeça na posição que vemos?

Uma árvore teria crescido e envolvido a cabeça cortada de uma das estátuas


Placas no local pedem respeito neste local milagroso para os tailandeses budistas


Outro ângulo da cabeça de Buda


WAT RATCHABURANA

Ao lado de Wat Maha That se encontra esse outro grande templo que também custa 50 baht mas estava com acesso liberado. A sua maior atração é o prang (torre) em estilo Khmer que se encontra em restauração. Em 1958, foram achadas estátuas de ouro que foram roubadas. As que ficaram, estão no Museu Chao Sam Phraya. O grande prang tem acesso livre por escadas até seu interior. De dentro, a escada desce em direção a uma câmara inferior misteriosa com pinturas antigas nas paredes.

Ao entrar em Wat Ratchaburana já nos deparamos com o prang central 


Estátua de Buda na subida da torre central


Parte do prang foi restaurado e pode ser acessado pelos visitantes


Em uma câmara no interior do prang estão pinturas antigas nas paredes


A parte de trás do templo é cercada de chedis em forma de sinos


Selfie com as cabeças de Buda


WAT THAMMIKARAT

Algumas centenas de metros depois cheguei neste templo que ainda funciona com a presença de monges. A entrada para turistas custa 20 baht e possui duas grandes construções antigas cercadas por templos modernos. Uma delas é um viharn (templo com a estátua de Buda) e o outro é um chedi com estátuas de leões mitológicos. O Viharn Luang chegou a guardar uma enorme cabeça de bronze de Buda do período U-Thong, agora exibido no Museu Chao Sam Phraya.

Há um lago e bandeiras da Tailândia na entrada do templo


O viharn que já abrigou uma imensa cabeça de buda de bronze


Chedi cercado de estátuas de leões mitológicos


Os singha são uma mistura de leão com dragão


Uma escada com as cobras Nagas desce do chedi


Mas a experiência mais marcante foi entrar no templo moderno, um lugar bem simples, sem luxo. O monge me chamou e realizou um ritual no estilo de "passe" espírita. Ele molha umas varetas e joga a água, entoando um mantra. No final, coloca uma pulseira no braço, se for mulher no braço esquerdo e se for homem no braço direito. Ao sair, é de bom grado fazer uma pequena doação. 

Interior do pequeno templo budista na entrada do complexo de Thammkarat


Pulseira budista colocada pelo monge. Serve para lembrar os pensamentos positivos tidos no templo


Outra crença é comprar uma telha que será usada na construção de um templo e escrever o nome da família


O culto ao galo, ave que simboliza a paixão. O porco é a estupidez e a serpente é o ódio


PHRA RAM PARK

No meio do Parque Histórico de Ayutthaya (que não é fechado, existe em meio a um bairro), está um grande lago cercado de árvores. Um lugar bem agradável, cercado de atrações históricas. Por ali é comum ver elefantes nas calçadas levando turistas para um passeio. Eu acabei pisando numa poça de xixi de elefante ao estar distraído tirando fotos.

Elefantes dividem as ruas com carros e pedestres


Se pisar em cocô de cachorro na rua é ruim, imagina só o de um elefante


WAT PHRA SI SAMPHET


Este é um dos templos que considerei mais preservados e bonitos da antiga Ayutthaya. São 3 chedis (stupas de estilo tailandês) localizados na área do antigo palácio real. O templo foi usado para cerimônias religiosas da realeza. Acredita-se que cada chedi contenha as cinzas de um rei. Conta a lenda que ali havia uma estátua de Buda medindo 16 m de altura e coberta com 340 kg de ouro, mas os birmaneses incendiaram a estátua para derreter o ouro e o templo foi destruído. A entrada custa 50 baht, mas estava aberto ao público. Funciona diariamente de 08h às 18h.

Olhando de longe parece até o castelo da Disney


Cada chedi guarda as cinzas dos reis Boroma-Tri-Loka-Nat, Boroma-Rachathirat III e Ramathibodi II


Era um local de culto particular da família real de Ayutthaya


Pedaço da ponta de um antigo chedi gigante que foi destruído


Fui abordado por uma aluna para colaborar num trabalho da aula de inglês: uma entrevista. Achei muito boa a iniciativa da escola


WIHAN PHRA MONGKHON BOPHIT

Através do terreno dos 3 chedis, entrei por uma porta na área deste templo que se encontrava em obras para restauração. Chegou a ser destruído pelo fogo na invasão da Birmânia, mas foi reconstruído em 1957. Possui uma imensa estátua de bronze de Buda, mas o acesso ao seu interior estava fechado.

Lindo templo com colunas que lembram as colunas egípcias com forma de flores no topo


Ao lado direito do templo, existe uma saída em meio a um mercado que vende de tudo


WAT LOKAYASUTHARAM

Nesse local sagrado e um pouco escondido está um imenso Buda reclinado que teria inspirado o cenário de Sagat do game Street Fighter. Ao sair pelo caminho da feira acima, atravessei um canal pela pequena ponte e, do outro lado da via, procurei pela rua que dá acesso a este templo imperdível. Uma placa improvisada colocada na esquina mostra a direção. 

A gigantesca estátua de Buda reclinado simboliza o estado de nirvana, a iluminação


Apesar de antiga, a estátua é bastante visitada e adorada pelos budistas


O tamanho dos pés dá uma noção da grandeza da estátua


WAT WORACHETTHARAM

Construído a apenas alguns metros do buda reclinado, estão as ruínas de outro templo antigo, o Wat Worachettharam. Apesar de bem antigo, possui a mesma estrutura dos templos atuais, com um chedi e um viharn que tem uma estátua de Buda sorrindo.

Interior do viharn (templo) com uma antiga estátua de Buda


Apesar de bem desgastada, a imagem de Buda continua sorrindo em meditação


WAT PHU KHAO THONG

Esse templo fica fora da ilha, a cerca de 5 km a noroeste a partir do parque histórico. Resolvi perguntar para um tuk tuk o valor até lá. O motorista, já idoso (ou desgastado, sei lá), me disse que faria o preço de 200 baht por 1 hora de passeio. Calculei o tempo para ir e voltar até a outra extremidade da ilha. Mas o que eu queria ver tão longe assim? Uma pirâmide tailandesa!

O templo seria um chedi, mas é muito semelhante às pirâmides maias


Até mesmo uma cabeça de serpente nas escadas como o deus Kukulkan, das pirâmides mesoamericanas


O templo está bem conservado e é permitido subir pelas escadas


Para visitar a área do templo não existe bilheteria, a entrada é grátis. Também é possível subir livremente suas escadas e ter uma impressionante vista da paisagem. Outra coisa que achei intrigante é a porta de acesso a um câmara no alto da pirâmide. O corredor é inclinado, lembrando o caminho para a câmara do rei da Grande Pirâmide de Gizé (numa versão bem mais discreta). Outra coincidência é seu nome, Phu Khao lembra a palavra Rapa Nui "pukao", nome dos chapéus dos moai da Ilha de Páscoa.

Vista do alto da plataforma da pirâmide


Corredor de acesso à câmara


O interior da câmara é todo espelhado e possui diversas estatuetas de buda


FORTE PHET

Aproveitei o tempo que ainda tinha o tuk tuk a minha disposição para seguir para o lado oposto da cidade. Deslocar-se por fora da ilha de Ayutthaya é complicado e pode demorar para cruzar todas as pontes, fazendo os tuk tuk ou táxis faturarem com isso. Para otimizar o tempo, pedi para me levar até Phom Phet, como são conhecidas as ruínas deste antigo forte que defendia a cidade. Não há muita coisa para ver, apenas umas poucas ruínas e a vista privilegiada do rio. A entrada é grátis. Meu objetivo maior de chegar até ali era atravessar para chegar na próxima atração.

Em cada ponto de confluência de rios havia um forte para a defesa da ilha


WAT PHANAN CHOENG

A grande atração deste templo é a sua estátua de Buda, a mais alta da Tailândia, medindo 20 metros de altura. O local é sagrado e bem antigo, há registros de que já havia um monastério muito antes da fundação da cidade como capital. A travessia de barco até o templo, a partir do Forte Phet, custa 5 baht. Ao desembarcar no templo é cobrada uma taxa de 20 baht e funciona de 8h30 às 17h.

A mais alta estátua de Buda do país se encontra neste templo


Mas a minha experiência nesse templo foi bem mais ampla do que apenas conhecer a estátua. Cheguei bem na hora que acontecia um ritual em que o manto era colocado naquele Buda. Vários fiéis observavam, até que o manto foi estendido por cima das pessoas (inclusive de mim). Neste momento ocorreram mantras e então o manto foi recolhido para a estátua. As pessoas entraram no recinto e giravam no sentido horário, passando pelo monge do templo que jogava água (inclusive em mim, acertou na cara!) e depois batiam num tambor antes de saírem.

Vivenciei um ritual budista de colocação do manto na imagem de Buda


Após sair desse salão, observei as pessoas realizando outro ritual individualmente. Todas compravam "folhas de ouro" e colavam esses pedaços nas estátuas do templo. Assim, as estátuas se mantinham revitalizadas. Entrei na onda e também colei os quadradinhos dourados (20 baht) numa estátua. Achei outra curiosidade ao sair do templo budista: havia um templo chinês bem do lado, na mesma área do complexo. Entrei e observei os rituais diferentes que ocorriam por ali. 

Ritual de colagem de pequenas folhas de tinta dourada


Um colorido templo chinês do lado do templo budista


Curioso: placas alertavam para pickpockts (batedores de carteira) deixando claro que esses bandidos não eram de origem thai


WAT YAI CHAI MONKGON

Fui caminhando por cerca de 1,7 km até chegar neste que é conhecido como "Templo da Vitória Afortunada". Foi construído, inicialmente, para servir de monastério para os monges no reinado de U-Thong. Mais tarde, foi levantado o maior chedi de Ayutthaya que é uma de suas principais atrações, juntamente com o seu buda reclinado muito bem conservado. O valor da entrada é de 20 baht e o funcionamento é de 8h às 18h.

Este é um dos lugares mais visitados de Ayutthaya


O templo é cercado por imensas imagens de Buda


Várias ruínas de templos mostram a importância desse lugar no passado


Centenas de estátuas restauradas de Buda circundam a área


O pôr-do-sol observado de cima do grande chedi


Estátuas douradas no interior do grande chedi


Um curioso altar com estatuetas e bichinhos de pelúcia


O buda reclinado é uma das atrações mais fotografadas


OUTRAS ATRAÇÕES

A antiga capital do Sião possui várias outras atrações que podem ser visitadas. Resumi no meu roteiro aquelas que considerei mais importantes para fazer no tempo disponível. Para quem tem mais tempo, sugiro visitar também: 
- Museu Chao Sam Phraya - Museu de achados arqueológicos;
- Ayutthaya Historical Study Center - Museu de história, economia e modo de vida durante o período histórico;
Wat Borom Phuttharam - Fica dentro Universidade Rajabhat. Construído entre 1688 e 1703 durante o reinado de Phetracha;
Phra Chedi Suriyothai - Um Chedi pintado de branco com dourado em memoria a uma rainha antiga. Fica fora da ilha; 
- Wat Chai Watthanaram - O "templo do longo reinado". Foi reconstruído em 1987. Estilo arquitetônico Khmer. Fica fora da ilha.


PARTIDA PARA BANGKOK

Peguei um tuk tuk de Wat Yai Chai Mongkon até a estação de trem para pegar minha mochila e comprar a passagem para Bangkok. Existem vários trens regulares com destino a Bangkok que param em Ayutthaya, desde 02h26 às 19h24. A passagem do trem ordinário custa apenas 15 baht. Existe também o trem especial que custa cerca de 300 baht e é mais moderno. Eu viajei no trem barato mesmo e foi bem tranquilo, apesar de atrasar alguns minutos e mudar a plataforma, os funcionários da estação souberam informar bem. Depois de 2 horas de viagem, cheguei sem problemas na estação Hua Lamphong em Bangkok para continuar minha jornada pelo país.

A viagem que percorreu 80 km de Ayutthaya a Bangkok custou cerca de R$ 1,5


VEJA O VÍDEO

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MAPA DE AYUTTHAYA



CUSTOS (dezembro 2016)

- Café da manhã no Faily Market - 150 baht
- Van para Railway Station - 10 baht
- Barco de travessia do rio (ida) - 5 baht
- Guarda Bagagem - 10 baht
- Barco de travessia do rio (volta) - 5 baht
- Entrada Wat Thammikarat - 20 baht
- Doação para o monge - 20 baht
- Tuk Tuk (1h) - 200 baht
- Barco de travessia para Wat Phanan Choeng - 5 baht
- Entrada Wat Phanan Choeng - 20 baht
- Quadradinho dourado do ritual - 20 baht
- Lanche no 7 Eleven - 180 baht
- Entrada no Wat Yai Chai Monkgon - 20 baht
- Tuk tuk para a Railway Station - 80 baht
- Trem para Bangkok - 15 baht
- WC na estação de trem - 3 baht


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.