Paraguai: Jesús de Tavarangue, a missão jesuítica inacabada

A igreja não foi concluída pois os jesuítas foram expulsos do Paraguai na mesma época



Jesús de Tavarangue é uma das reduções jesuíticas mais novas e cujas construções ainda estão de pé depois de vários séculos. Mas o que eram as reduções jesuítas? bem, era um tipo de vila para os povos indígenas em América do Sul criadas pela Ordem dos Jesuítas durante os séculos 17 e 18. A estratégia do império espanhol foi reunir as populações nativas em centros de chamadas "reduções indígenas" a fim de cristianizar, fiscalizar e governá-los de forma mais eficiente.


COMO CHEGAR?

Jesús de Tavarangue fica próximo da cidade de Encarnación no Paraguai. A partir de Encarnación, é preciso tomar um ônibus para Ciudad del Este e descer na Ruta 6, Km 31. Quase 30 min de viajem. No desembarque do ônibus está a entrada de outro sítio arqueológico, o de Santíssima Trinidad. Foi lá que eu me informei sobre duas maneiras de chegar em Jesús de Tavarangue: (1) Pagar um táxi (60.000 guaranis) ou (2) caminhar 150 m pela Ruta 6 até o "cruce". Esperar no posto de gasolina por uma van (remis) que vai até o sítio de Jesús de Tavarangue e cobra 5.000 guaranis.

A van passa no "cruce"(ou cruzamento) para seguir  por 12 km até o sítio arqueológico


Uma van em más condições de conservação faz o transporte até Jesús de Tavarangue


Na entrada está a bilheteria e um sala que é autorizado deixar as mochilas (não tem armário). O ingresso custa G$ 25.000 e serve para visitar 3 missões (além de Jesús de Tavarangue, pode-se entrar em Trinidad e Cosme y Damián). Como eu já havia comprado o ticket em Trinidad, só passei pelo controle e já estava numa grande praça, a Plaza Mayor.

A entrada do centro de visitantes mantém o mesmo estilo arquitetônico


O COMPLEXO DE JESÚS DE TAVARANGUE

A Reducción de Jesús como era conhecida foi inicialmente fundada em 1685. A missão foi transferida várias vezes antes de chegar em seu local atual em 1760. Com a expulsão dos jesuítas do Paraguai em 1767, a construção da missão não chegou a ser concluída. A igreja estava sendo construída como uma réplica da Igreja de Santo Inácio de Loyola, na Itália. 

Teria sido uma das maiores igrejas da época, com uma estrutura central de 70 x 24 metros 


Possui arcos trilobulados característicos da cultura muçulmana que então prevaleciam na Espanha


Brasão com símbolos religiosos acima das janelas


A arquitetura desta igreja era completamente diferente das outras. Em estilo mourisco, único em todas as reduções, pode ser visto nas portas de entrada. O teto não seria de madeira ou de pedra como em outras, e sim de estilo misto com muros de apoio e grandes pilares centrais. Por não ter teto (a igreja não chegou a ser acabada), Jesús de Tavarangue escapou ilesa aos saqueadores, pois não possuía ouro ou imagens valiosas no altar.

No interior da igreja ainda estão posicionadas as bases dos pilares


Teria sido uma das maiores igrejas da época, com uma estrutura central de 70 x 24 metros 


Esse vazio de hoje faz esquecer que a região chegou a ter cerca de 3 mil habitantes em 1750


Andar por entre as ruínas é como voltar no tempo das missões jesuíticas


Altar e entrada da sacristia


Detalhes da porta talhados nos blocos de pedra


Aqui ainda se conserva parte do reboco da parece


Parte lateral da Igreja onde ficava o acesso à orta de erva mate


Depois de quase dois séculos de abandono, foi redescoberta e declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO, em 1993


Nos arredores ainda podem ser vistas as bases das casas dos indígenas


O MUSEU DE JESÚS DE TAVARANGUE

Antes de ir embora, dai uma passada no museu localizado no centro de visitantes. Existem peças e detalhes de arquitetura restaurados e expostos. Existe uma maquete e algumas pinturas que também mostram como era a vida dos espanhóis e índios daqueles dias.

No museu, alguns objetos podem ser vistos com calma, como a réplica da porta em estilo mourisco


Friso com rosto sinistros de três anjos


Um jarro de madeira com detalhes da cultura jesuítica


RETORNO

Para voltar ao meu ponto de partida não foi fácil. Não há transporte regular desde o sítio arqueológico. Segui andando até o povoado de Jesús de Tavarangue e esperei para ver se passava alguma van. Cheguei até a ver crianças dirigindo carros, mas nada de transporte público. Resolvi ir caminhando até a estrada e um carro parou para me dar carona, era um casal de franceses que viajava em direção à Argentina. Eles haviam chegado do Rio de Janeiro e alugaram um carro em Foz do Iguaçu para a sua jornada. Me deixaram de volta na Ruta 6 onde peguei um ônibus para meu próximo destino: Ciudad del Este.

À espera de uma carona que chegou através de um casal de franceses


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.